Paradoxos Espaciais - Manifesto acerca da mobilidade e do transporte urbano em Juiz de Fora

Por Maria Lúcia Pires Menezes - Vice Diretora da AGB/JF

 

O cidadão mais primariamente alfabetizado sabe que o espaço é o objeto de estudo da geografia. Não apenas é o espaço objeto da geografia, sendo este também estudado em outras ciências humanas e naturais. Mas aqui pretendo tratar da natureza do espaço geográfico, mais precisamente sobre um recorte que envolve o nosso campus universitário e seus fluxos com seu entorno imediato. É da condição jurídica do espaço compreendido pelo campus universitário federal pertencer aos domínios da União. Sua função é equipar o espaço educativo, de pesquisa, extensão e compor a infraestrutura física e os recursos materiais às necessidades acadêmicas e administrativas de professores, pesquisadores, funcionários e alunos. O campus atende e dota a cidade de um uso para além de suas funções específicas, ao se tornar também um espaço de uso cultural e de amenidades públicas à população da cidade e região. Muitos exemplos semelhantes encontramos no nosso país.
No caso específico do Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, sua localização no espaço intraurbano da cidade o tornou um espaço de ligação entre o Centro da cidade, os bairros do eixo da Avenida Itamar Franco (antiga Independência), os bairros lindeiros ao Acesso Sul, a rodovia BR-040, o Bairro Dom Bosco, e de todos estes à Cidade Alta. São bairros que vêm apresentando um grande crescimento, palco de investimentos imobiliários e da dinâmica expansão da prestação de serviços e da atividade comercial em Juiz de Fora. Portanto, além de sua função de campus universitário, espacialmente e especialmente, o anel em torno do lago é hoje uma avenida de intenso tráfego inserida no espaço urbano da cidade. O paradoxo acontece quando as faculdades e as outras instalações universitárias que não estão no nível desse anel não dispõem de mesma acessibilidade e fluxo de serviços de transporte que possam atender primordialmente àqueles que estudam e trabalham no campus. Nem todas as linhas de ônibus vão a todas as unidades universitárias, não há ainda um transporte interno regular, à exceção do horário de funcionamento do Restaurante Universitário e, para complicar, há horários em que é impossível se comunicar com as empresas de táxi. Além do engarrafamento constante em horários de ida e retorno escolar e de trabalho.
Portanto, é mister projetar soluções na malha urbana da cidade (anel viário no entorno do campus, túneis etc.) para que fique garantido o uso eficiente do espaço de trabalho da comunidade universitária e daqueles que usam o campus como espaço de qualidade ambiental: para caminhar, para passear, para contemplar, para fazer piqueniques etc. Tais práticas estão atualmente vulnerabilizadas pela intensidade do tráfego no anel viário do Campus da UFJF. Diante de outros exemplos de uso indevido do espaço, obras inacabadas e superfaturadas e todas as situações que envolvem o Governo federal, estadual e municipal, não estaria mais do que na hora de um esforço conjunto dessas instâncias na gestão de qualidade funcional do espaço urbano, para assim nos livrar do incômodo da perplexidade diante de tantos paradoxos? É preciso que o campus universitário seja precarizado para a sua comunidade direta e ao público em geral, por absoluta falta de alternativa e investimento na malha viária e no tráfego do espaço intraurbano da cidade de Juiz de Fora?
A natureza do espaço deve ser servir, não, claro, sem lutas, ao bem estar de todos.

 

Fonte: www.tribunademinas.com.br/opini-o/artigo-do-dia/paradoxos-espaciais-1.1062833